Acervo CER-3
Principais peças do acervo
- Moeda comemorativa da CER-3.
O estabelecimento da CER-3 (Comissão de Estradas de Rodagem nº3), entre 1945 e 1983 (conforme imagem acima), marcou a formação espacial do Sul do então Mato Grosso, sendo importante para a consolidação da fronteira Oeste, bem como para a construção de uma identidade regional (regionalidade) brasileira.
Através da atuação do Exército, construíram a identidade brasileira em um recorte espacial que durante muito tempo manteve ligações muito fortes com o Paraguai. Isto devido ao fato desta porção territorial não estar integrada ao restante do Brasil, devido ao difícil acesso (havia apenas poucas estradas carreteiras, e em péssimas condições) e o desinteresse estatal na região. Era natural que acabasse por estreitar vínculos com os vizinhos, muito mais próximos geograficamente e com interesses em comum, como a erva-mate.
- Trecho da BR-262, entre Miranda e Aquidauana
Construção da BR-262, em 1973. Trecho Miranda – Aquidauana. Na década de 1940, no século XX, o estabelecimento da CER-3 (Comissão de Estradas de Rodagem nº3), foi fundamental para o estabelecimento do modal rodoviário na região, bem como para a pavimentação da identidade brasileira nos confins da Fronteira Oeste.
Durante a Era Vargas, no tocante à gestão territorial, o principal objetivo era ocupar a porção ocidental do território, ressaltando que o país havia se desenvolvido inicialmente ao longo do seu litoral.
Neste contexto, em 1933, o então 6º Batalhão de Engenharia se desloca para Nioaque e, em seguida, para Faz Jardim, abrindo novas estradas e urbanizando a região.
Aproveitando-se do efetivo militar já existente na região, em Jardim foi implantada a CER-3, em 25/02/1945, com a missão de integrar o sul do então Mato Grosso ao restante do país por meio de rodovias. Entre os principais feitos pela comissão na construção da malha rodoviária foram as estradas: BR-262; BR-419; BR-267 (conforme destaca a imagem abaixo). Sua atuação foi dinamizadora do desenvolvimento regional.
- Educandário Coronel Felício.
O loteamento da Vila Jardim foi implantado no ano de 1946, sendo distrito do município de Bela Vista. Em seu memorial descritivo encontrou-se a reserva de uma quadra para a construção de uma escola, demonstrando a preocupação dos militares com a escolarização. No final deste memorial, o chefe da CER-3, autor do mesmo, relata que seu objetivo seria a vila no futuro se tornar uma cidade.
Temos um ponto de inflexão na questão cultural jardinense ocorreu à época da Comissão: inicialmente com o curso noturno de alfabetização em 1951, culminando com a ordem, em pleno governo de Kubitschek, para a construção do Educandário da CER-3, em 1956. Este, recebeu o nome de seu comandante neste período, grande incentivador da alfabetização: Coronel Felício. Atendia aos filhos de militares, funcionários civis e seus filhos, além de crianças locais, recebiam aulas dentre outras disciplinas, de Português, noções de civismo e respeito aos símbolos nacionais.
O papel da CER-3 na construção da identidade sociocultural no município de Jardim-MS é evidente: por aproximadamente quatro décadas esteve à frente da construção de toda infraestrutura que possibilitou o adensamento populacional tão sonhado pelo Governo Brasileiro.
- "Boró"
“Boró” foi o nome pelo qual ficou conhecido o VALE DE FORNECIMENTO criado pela chefia da CER-3 para tentar resolver o problema da falta de dinheiro na recém-criada Vila Jardim.
A criação da CER-3, em 1945, estimulou a vinda de pessoas para região da histórica Fazenda Jardim e, no ano seguinte, o surgimento da Vila de mesmo nome. Todavia, em 1947, houve a paralização nos serviços da Comissão e a consequente falta de dinheiro.
As pessoas passaram meses sem acesso à moeda corrente nacional. A vila corria o risco de deixar de existir, prematuramente.
Para amenizar o problema que afetava os funcionários da CER-3, seus familiares e as pessoas que orbitavam àquela organização militar, o Tenente Coronel Flávio Duncan de Lima Rodrigues, aprovou a emissão de Vales de Fornecimento (Boletim Interno da CER-3, de 31/122/1948), que na prática eram apenas papeis assinados pelo Chefe da CER-3, atestando o valor correspondente à moeda nacional, na época, o Cruzeiro.
Quando os recursos finalmente chegavam, as pessoas se dirigiam à CER-3 para fazer a devida troca do Vale por dinheiro de verdade. Naqueles tempos difíceis foi assim que as pessoas puderam fazer suas transações, comprar no armazém da CER-3 e honrar seus compromissos, utilizando o Vale de Fornecimento “Boró”, que circulou pela Vila Jardim e região por pelo menos 10 anos. Conta-se que um funcionário desavisado tentou usar o “Boró” para comprar passagem em Corumbá-MT. O fato foi motivo de preocupação, pois a CER-3 podia ser acusada de emitir papel-moeda.
- Time de futebol da CER-3.
Toda a parte esportiva e recreativa era oferecida pela CER-3 a seus funcionários e demais munícipes. O futebol, paixão nacional, não ficaria de fora. O esporte coletivo, além da atividade física em si, cultiva valores como cooperação, disciplina, superação.
O time da CER-3, formado por seus funcionários, fez História no Mato Grosso uno, e depois com a divisão (1977), seguiu desfilando o inconfundível emblema da Comissão nos campos sul-mato-grossenses.
Nos dias de jogos, os funcionários selecionados trocavam seus uniformes de trabalho, ferramentas e maquinários pela camisa, calção e chuteiras. Toda a grandiosa ação da CER-3 ao construir toda a infraestrutura regional era repetida também, dentro das quatro linhas.
- Cine-Jardim.
Na década de 1940 o Brasil ainda era predominantemente agrário. Naqueles tempos o rádio representava o que havia de mais moderno em termos de difusão de informação e cultura. Assim, em 1946, quando ainda se vivia o auge do rádio, a recém criada Vila Jardim ganhou de presente da CER-3 um cinema.
O Cine Jardim seria, a partir de então, para os moradores daquele longínquo rincão, uma janela para o mundo, que por quase quatro décadas (entre fins dos anos 1940 e início dos anos 1980) foi o espaço de cultura e lazer da comunidade local. Ainda hoje, quando se houve a sirene da 4ª Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada indicando os horários da tropa, os mais velhos lembram saudosos os três toques que anunciavam o início das sessões.
Os filmes, em sua maioria, eram americanos (filmes de velho oeste), mas quando o Cine Jardim exibia os filmes de Mazzaropi, suas 450 poltronas ficavam todas ocupadas. Além dos filmes, o Cine Jardim foi palco de apresentações teatrais e diversas outras manifestações culturais. Muitas famílias de Jardim começaram ali: no escurinho do cinema; na praça em frente ao prédio.
Quando a CER-3 foi extinta, junta com ela foi o cinema. Enquanto o prédio foi se deteriorando pela ação do tempo, a maioria dos cinemas das pequenas cidades brasileiras já tinha deixado de existir. Era o fim de uma época que marcou a história do cinema no país e a história da pequena Jardim. Em 1987 o Cine Jardim foi demolido para atender as demandas da nova organização militar instalada ali. Hoje vive na memória do povo, e em alguns objetos materiais expostos no Museu da CER-3.
Texto
1º Sgt Evandro Dias da Silva – Historiador
2º Sgt Eduardo Henrique – Geógrafo
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